Vestir-se da Nova Humanidade

Ainda refletindo sobre a Campanha da Fraternidade deste ano, que aborda tema da Fraternidade e Amizade Social, com o objetivo de debruçar-se sobre o desafio do diálogo em meio à divergência de pensamentos, gostaria de fazer eco à provocação positiva de São Paulo ao dirigir-se à comunidade dos Efésios 4,24. O Apóstolo nos exorta a “vestirmo-nos da nova humanidade”.

A mensagem paulina para essa comunidade é bastante atual. Aborda o tema da salvação realizada em Jesus Cristo, a unidade da Igreja e o comportamento cristão.

O autor insiste na reflexão sobre a postura do batizado na sociedade, já que se espera de um discípulo(a) de Cristo a chamada “sequela Christi”, ou seja, seguir o Mestre, inseridos na realidade do tempo com seus desafios próprios. Fala-se muito hoje em mudança de época. O que significa isso para o cristão? Mudar de acordo com os ventos da cultura dominante? Ou, pelo contrário, fecundar a cultura com a mensagem sempre transformadora do Evangelho? Eis o grande desafio para a Igreja: não se conformar com o mundo, como também não se apegar a um certo tipo de saudosismo ao insistir em uma expressão eclesial e de costumes que não corresponde mais aos novos desafios evangelizadores. Precisamos sempre retomar o essencial e, para isso, temos a ação do Espírito Santo na comunidade de fé, de forma a conduzir nossa vida discernindo bem, na linha da autêntica Tradição e da Sagrada Escritura, tendo como fiel intérprete o Magistério.

A Carta aos Efésios tem muito a nos ensinar. Primeiramente, recorda que a Igreja é Corpo de Cristo e, por consequência, Cristo é a “cabeça” do corpo eclesial. Também é uma carta exortativa para que se mantenha a unidade na diversidade, exortando a agir eticamente, tendo Cristo como princípio normativo e na qual se insiste que os batizados se comportem com filhos da luz, revestindo-se da “nova humanidade” em Cristo.

 Nesse sentido, todo cristão é chamado a mudar suas atitudes e reavaliar escolhas, tornando as relações familiares e sociais mais saudáveis, fraternas e compassivas. Isso significa sermos imitadores de Cristo, deixando-nos guiar pelo Espírito Santo. O Apóstolo conclama todos a viver na unidade e contribuir para edificação e crescimento do corpo de Cristo.

Para isso, precisamos abandonar a antiga maneira de viver, tendo como exigência fundamental contribuir pela unidade eclesial e social, para além das divergências existentes. Vai ao encontro do que nos pede a Campanha da Fraternidade, ou seja, testemunhar urgentemente que desejamos uma nova humanidade em Cristo, transformada pelo Evangelho, na qual as diferenças, visões e mentalidades diversas não devem ofuscar nosso compromisso com a fraternidade e o respeito entre nós, que significa, em última instância, a capacidade de relacionarmo-nos como irmãos e irmãs. É a exigência evangélica que todos devemos nos empenhar em concretizar nas mais diversas formas de interação: vida política, laboral e eclesial.

Ao aproximarmo-nos da Páscoa, que possamos nos transfigurar e nos revestir de Cristo. Assim como o próprio São Paulo atestou em sua experiência pessoal de fé, quando afirmou: “não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Procedimentos maduros e equilibrados nos façam contribuir para uma sociedade mais justa e fraterna, onde uma nova humanidade, desejada por Deus, seja perceptível em um pacto de amor, amizade e compreensão.

O Senhor é nossa força!