MENSAGEM DA 58ª ASSEMBLEIA GERAL DA CNBB AO POVO Brasileiro
MENSAGEM DA 58ª ASSEMBLEIA GERAL DA CNBB
AO POVO BRASILEIRO
Esperamos novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça. (2Pd 3,13)
Movidos pela esperança que brota do Evangelho, nós, Bispos do Brasil, reunidos, de modo
online, na 58ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, de 12 a 16 de
abril de 2021, neste grave momento, dirigimos nossa mensagem ao povo brasileiro.
Expressamos a nossa oração e a nossa solidariedade aos enfermos, às famílias que perderam
seus entes queridos e a todos os que mais sofrem as consequências da Covid-19. Na certeza da
Ressurreição, trazemos em nossas preces, particularmente, os falecidos. Ao mesmo tempo,
manifestamos a nossa profunda gratidão aos profissionais de saúde e a todas as pessoas que têm
doado a sua vida em favor dos doentes, prestado serviços essenciais e contribuído para enfrentar a
pandemia.
O Brasil experimenta o aprofundamento de uma grave crise sanitária, econômica, ética, social
e política, intensificada pela pandemia, que nos desafia, expondo a desigualdade estrutural enraizada
na sociedade brasileira. Embora todos sofram com a pandemia, suas consequências são mais
devastadoras na vida dos pobres e fragilizados.
Essa realidade de sofrimento deve encontrar eco no coração dos discípulos de Cristo1
. Tudo
o que promove ou ameaça a vida diz respeito à nossa missão de cristãos. Sempre que assumimos
posicionamentos em questões sociais, econômicas e políticas, nós o fazemos por exigência do
Evangelho. Não podemos nos calar quando a vida é ameaçada, os direitos desrespeitados, a justiça
corrompida e a violência instaurada2
.
Louvamos o testemunho de nossas comunidades na incansável e anônima busca por amenizar
as consequências da pandemia.
Muitos irmãos e irmãs, bispos, padres, diáconos, religiosos, religiosas,
cristãos leigos e leigas, movidos pelo autêntico espírito cristão, expõem suas vidas no socorro aos
mais vulneráveis. Com o Papa Francisco, afirmamos que “são inseparáveis a oração a Deus e a
solidariedade com os pobres e os enfermos”3
. As iniciativas comunitárias de partilha e solidariedade
devem ser sempre mais incentivadas. É Tempo de Cuidar!
Somos pastores e nossa missão é cuidar. Nosso coração sofre com a restrita participação do
Povo de Deus nos templos. Contudo, a sacralidade da vida humana exige de nós sensatez e
responsabilidade. Por isso, nesse momento, precisamos continuar a observar as medidas sanitárias
que dizem respeito às celebrações presenciais. Reconhecemos agradecidos que nossas famílias têm
sido espaço privilegiado da vivência da fé e da solidariedade. Elas têm encontrado nas iniciativas de
nossas comunidades, através de subsídios e celebrações online, a possibilidade de vivenciarem intensamente a Igreja doméstica. Unidos na oração e no cuidado pela vida, superaremos esse
momento.
Na sociedade civil, os três poderes da República têm, cada um na sua especificidade, a missão
de conduzir o Brasil nos ditames da Constituição Federal, que preconiza a saúde como “direito de
todos e dever do Estado”4
. Isso exige competência e lucidez. São inaceitáveis discursos e atitudes que
negam a realidade da pandemia, desprezam as medidas sanitárias e ameaçam o Estado Democrático
de Direito. É necessária atenção à ciência, incentivar o uso de máscara, o distanciamento social e
garantir a vacinação para todos, o mais breve possível. O auxílio emergencial, digno e pelo tempo
que for necessário, é imprescindível para salvar vidas e dinamizar a economia5
, com especial atenção
aos pobres e desempregados.
É preciso assegurar maiores investimentos em saúde pública e a devida assistência aos
enfermos, preservando e fortalecendo o Sistema Único de Saúde - SUS. São inadmissíveis as
tentativas sistemáticas de desmonte da estrutura de proteção social no país. Rejeitamos energicamente
qualquer iniciativa que intente desobrigar os governantes da aplicação do mínimo constitucional do
orçamento na saúde e na educação.
A educação, fragilizada há anos pela ausência de um eficiente projeto educativo nacional,
sofre ainda mais no contexto da pandemia, com sérias consequências para o futuro do país. Além de
eficazes políticas públicas de Estado, é fundamental o engajamento no Pacto Educativo Global,
proposto pelo Papa Francisco .
Preocupa-nos também o grave problema das múltiplas formas de violência disseminada na
sociedade, favorecida pelo fácil acesso às armas. A desinformação e o discurso de ódio,
principalmente nas redes sociais, geram uma agressividade sem limites. Constatamos, com pesar, o
uso da religião como instrumento de disputa política, justificando a violência e gerando confusão
entres os fiéis e na sociedade.
Merece atenção constante o cuidado com a casa comum, submetida à lógica voraz da
“exploração e degradação”7
. É urgente compreender que um bioma preservado cumpre sua função
produtiva de manutenção e geração da vida no planeta, respeitando-se o justo equilíbrio entre
produção e preservação. A desertificação da terra nasce da desertificação do coração humano.
Acreditamos que “a liberdade humana é capaz de limitar a técnica, orientá-la e colocá-la ao serviço
de outro tipo de progresso, mais saudável, mais humano, mais social, mais integral”8
.
É cada vez mais necessário superar a desigualdade social no país. Para tanto, devemos
promover a melhor política9
, que não se submete aos interesses econômicos, e seja pautada pela
fraternidade e pela amizade social, que implica não só a aproximação entre grupos sociais distantes,
mas também a busca de um renovado encontro com os setores mais pobres e vulneráveis10
.
Fazemos um forte apelo à unidade da sociedade civil, Igrejas, entidades, movimentos sociais
e todas as pessoas de boa vontade, em torno do Pacto pela Vida e pelo Brasil. Assumamos, com
renovado compromisso, iniciativas concretas para a promoção da solidariedade e da partilha. A
travessia rumo a um novo tempo é desafiadora, contudo, temos a oportunidade privilegiada de reconstrução da sociedade brasileira sobre os alicerces da justiça e da paz, trilhando o caminho da
fraternidade e do diálogo. Como nos animou o Papa Francisco: “o anúncio Pascal é um anúncio que
renova a esperança nos nossos corações: não podemos dar-nos por vencidos!”
11
Com a fé em Cristo Ressuscitado, fonte de nossa esperança, invocamos a benção de Deus
sobre o povo brasileiro, pela intercessão de São José e de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do
Brasil.
Brasília, 16 de abril de 2021.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte – MG
Presidente da CNBB
Dom Jaime Spengler, OFM
Arcebispo de Porto Alegre - RS
1º Vice-Presidente
Dom Mário Antônio da Silva
Bispo de Roraima - RR
2º Vice-Presidente
Dom Joel Portella Amado
Bispo Auxiliar de São Sebastião do
Rio de Janeiro - RJ
Secretário-Geral da CNBB