POR UMA IGREJA SINODAL: comunhão, participação e missão
O Papa Francisco
nos convoca partir deste mês de outubro para
que todas as Igrejas Particulares (Dioceses)
se empenhem em um verdadeiro e rico
processo de escuta, isto é, que toda a igreja se envolva numa rica caminhada sinodal a
começar este ano e a concluir no ano
de 2023.
A primeira fase deste processo
de escuta se dará nas Igrejas Locais após a celebração de abertura em Roma no dia 09 de outubro de 2021 e a
fase diocesana do Sínodo começará no domingo, dia 17 de outubro. Em nossa diocese faremos esta abertura solene em
torno da Eucaristia, sacramento da Unidade,
na Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, bairro Conforto/VR, às 9h30,
transmitida pela nossa Radio Diocesana Sintonia
do Vale e demais redes
sociais da diocese.
O coordenador desse trabalho diocesano
de escuta será o Pe. José Antonio Perry, pároco da Paróquia
N. S. Da Conceição/Resende cuja tarefa, de acordo com as orientações da Santa
Sé, será de suscitar a participação de toda a comunidade eclesial
diocesana. Agradeço a disponibilidade do irmão presbítero, sabendo que exigirá dele muita dedicação.
Importante ressaltar que este
processo sinodal deve ser conduzido em um ambiente espiritual de partilha, escuta, valorizando os dons e
talentos de cada um. Neste aspecto, busquemos superar desconfianças e mentalidades mundanas relacionadas a disputa de
poder, imposição de mentalidade e
visões limitadas eclesiais e exclusivistas. Exorto a todos um caminho de
confiança mútua, fé comum e propósito
de comunhão.
Mas, o que significa Sínodo?
Devemos buscar nas fontes da própria Sagrada Escritura e Tradição da Igreja.
O Sínodo é palavra antiga e muito respeitada na Igreja. Ela é composta pela proposição
(Sin= com) e substantivo (odós = via). Ela nos leva a recordar o que o
próprio Jesus nos apresenta como caminho,
verdade e vida, inclusive os próprios cristãos eram reconhecidos como “os
discípulos do caminho”.
Interessante que este Sínodo,
convocado pelo Papa Francisco, tratará
justamente do tema da sinodalidade em si, diferente dos
anteriores que refletiram sobre família, jovens, etc. Se procurará refletir sobre o que é próprio da Igreja
buscando obviamente enriquecimento de nossa caminhada, tendo, o que não poderia ser diferente, como arcabouço a Palavra
de Deus e da Tradição Viva da Igreja. A partir dessas bases sólidas,
“procuraremos estimular confiança, curar feridas, tecer relações novas e profundas, iluminar mentes,
aquecer corações para comunhão e missão” (cf. Vade-mécum para preparação do Sínodo
nas dioceses).
Já se percebe claramente que Sínodo não é um parlamento democrático em que grupos se degladiam para prevalecer seus interesses,
portanto, evitemos esta tentação, como outras. Neste aspecto o Vade-mécum, para ajudar na preparação deste processo
de escuta nos alerta sobre várias tentações:
ver só problemas, nos concentrar em nós mesmos, conflito e divisão. É um
caminhar juntos, como batizados e
corresponsáveis na missão, cada qual à disposição do Reino carismas e dons. Este conceito de comunhão se
expressa na vida eucarística, sua fonte e cume, como bem recorda o Concílio Vaticano
II.
Esta tentação de entender Sínodo como “parlamento tira o foco do caminhar juntos e da missão, transformando em uma ‘batalha política’, mentalidade de vitória no sentido de derrotar o outro”. Isso está totalmente fora do espírito de um Sínodo levando a profundas divisões em que as ideologias eclesiais têm que se sobrepor, desacreditando quem pensa diferente. Deus nos livre desse vírus contagioso e perverso na Igreja que procura destruir as legítimas expressões da vida eclesial. Sempre atual a reflexão de Santo Agostinho “no essencial, a unidade; na dúvida, a liberdade; em tudo, a caridade”. Ao mesmo tempo este grande padre da Igreja nos fala da importância de preservar nossa identidade católica ao recordar que “não se imponha a verdade sem caridade, mas não se sacrifique a verdade em nome da caridade”. Como estamos precisando dessa coragem agostiniana em tempos nebulosos como os atuais diante das sutis tentações do conformar-se com o mundo, achando que, desta forma, será mais palatável a mensagem de Cristo.
A sinodalidade quer recordar a
cada um de nós o comprometimento e a participação enquanto Povo de Deus na vida e missão da Igreja, ou
seja, o ministério hierárquico e o sensus fidelium dos batizados, unidos a discernir bem os sinais dos tempos de forma
a responder os grandes desafios da evangelização.
A Igreja Sinodal
quer expressar uma comunidade de fiéis que participa ativamente e vive a corresponsabilidade
missionária. Neste sentido, todos são chamados a participar, segundo a vocação de cada um, tendo o devido cuidado de respeitar
a autoridade dos pastores, ungidos para o serviço do povo, não podendo, de forma alguma,
imaginar que os pastores nas Igrejas são uma função delegada e representativa do povo, de forma que, uma verdadeira
assembleia sinodal não toma decisões
sem seus legítimos pastores. Neste aspecto é bom recordar que, desde os tempos
apostólicos compete à autoridade do
bispo todas as decisões pastorais, como garantidor da apostolicidade e catolicidade (cf. CMI, sobre sinodalidade na Igreja,
n68).
Vamos iniciar essa caminhada, libertando-nos de preconceitos, visões ideológicas eclesiais, procurando ter humildade de escutar a todos, sem excessão, para
que possamos colaborar, enquanto Igreja
Particular, na plena comunhão com o Papa, deste processo de escuta e
participação. Neste aspecto todos se
sintam convidados a contribuir com sua visão e, ao mesmo tempo, ter a
capacidade de acolher as riquezas
das visões distintas. Todos devem se sentir envolvidos: movimentos eclesiais, grupos de reflexão, comunidades de vida,
pastorais, espiritualidades diversas.
Enfim, que ninguém se sinta
excluído deste momento de comunhão e participação, de forma a evitar a
armadilha de uma visão única e excludente da vida eclesial.
Evidentemente, os pastores
tem a missão de discernir
todas as contribuições apresentadas o que compete ao bispo diocesano em
suas sedes e o Papa para toda a Igreja Católica.
Seja para nós momento especial
de partilha e contribuição para caminhar juntos na unidade e missão.
O SENHOR É NOSSA FORÇA!
† Luiz
Henrique da Silva Brito Bispo Diocesano