Sacramento da Caridade, Pão da Unidade

          Estamos tão habituados em receber os sacramentos, especialmente a Eucaristia que, por vezes, não nos damos conta do imenso valor e seu profundíssimo significado na vida de fé, como também, as abundantes graças que usufruímos desse augustíssimo sacramento.

        Recorda-nos o Concílio Vaticano II que “o nosso Salvador, na Última Ceia, na noite em que foi entregue, instituiu o Sacrifício Eucarístico do Seu Corpo e do Seu Sangue para perpetuar o Sacrifício da Cruz pelos séculos além” SC 47. E continua sua reflexão destacando que a Eucaristia é “sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal”.

       A Eucaristia, sendo sacramento da piedade, nos recorda que devemos recebê-lo com a máxima reverência e adoração, porquanto, nossa fé católica sempre ensinou que a Eucaristia é o Corpo e Sangue do Senhor, não um símbolo ou representatividade. Nossas liturgias devem estar bem preparadas, organizadas com nobre simplicidade, empenhadas na frutuosa participação de toda a Assembleia, de forma que “os fiéis não assistam a este mistério da fé como estranhos e mudos espectadores, mas, que compreendendo-o bem através dos ritos e orações, participem na ação sagrada consciente, piedosa e animadamente” SC 48. Neste sentido, tenha-se o máximo cuidado para que a liturgia aconteça com muito respeito às orientações litúrgicas dadas pela Igreja, contidas na Introdução ao Missal Romano e rubricas. Os abusos litúrgicos só causam confusão e perplexidade e não deixam de ser um desrespeito aos fiéis que merecem celebrações bem preparadas e organizadas. Advirta-se que o canto litúrgico favoreça a participação frutuosa dos fiéis. Recordo aos que têm o dom do canto que não se comportem como se estivessem em uma apresentação musical, mas devem contribuir para que todos possam expressar seu louvor e ação de graças a Deus, por meio dos hinos adequadamente escolhidos para cada momento da liturgia. 

      A Eucaristia é sinal da unidade. Neste aspecto se deve-se cultivar nas comunidades este autêntico sentido de unidade, que não significa uma uniformidade ou imposição de uma visão eclesial ou espiritualidade sobre os outros, e também e desenvolver uma saudável convivência na vida eclesial, sendo todos os batizados, membros do Corpo Místico de Cristo. Causa  grande tristeza o desrespeito a Jesus Eucarístico, quando nossa divisão e falta de fraternidade, nos fazem esquecer o essencial de nosso discipulado, empobrecendo nossa fé e dificultando a missão, enfraquecendo-a. Estejamos atentos neste aspecto, para que ofereçamos ao Senhor, verdadeiro culto espiritual, com gestos de comunhão e amor.  Receber Jesus Eucarístico tem especial significado de pertencimento eclesial em todos os aspectos, ou seja, unidade da fé, disciplina e doutrina. Neste sentido, nos empenhemos no caminho da unidade de forma efetiva e afetiva, respeitando nossos pastores e contribuindo para a edificação do Reino de Deus em nossas comunidades eclesiais. Estejamos atentos à “tentação de Babel” que está sempre à espreita quando o orgulho turva a linguagem humana e gera violência, incompreensão e divisões. Agindo, desta forma sacrificamos nossa vida de fraternidade, dando mais valor a posições ideológicas e político-partidárias do que nossa fraterna vivência de fé. Causa-nos espanto presenciar nas redes sociais posturas fanatizadas, onde a caridade que nos une é posta de lado, por conta dessas mentalidades engessadas e intransigentes, corrompidas pelas ideologias. Neste aspecto, o Papa Francisco, em sua mensagem de Pentecostes exortou que “se dermos ouvidos ao Espírito, deixaremos de nos focar em conservadores e progressistas, tradicionalistas e inovadores, de direita e de esquerda... e o inimigo quer que a diversidade se transforme em oposição e por isso faz com que se torne ideologia”. Precisamos nos aproximar e experimentar Pentecostes, onde a linguagem do amor se faz sentir e compreender nas mais variadas culturas e línguas existentes no mundo.

          A Eucaristia é vínculo da caridade. Chegamos em um ponto de nossa reflexão que jamais pode ser posto de lado. Receber o Senhor é fazer comunhão com o próximo, especialmente, os mais necessitados. Não se pode falar em autêntica espiritualidade eucarística entendo-a como se fosse somente ater-se a excessivas formalidades litúrgicas, alheios aos acontecimentos da história, aos problemas sociais e as razões da miséria e desrespeito à dignidade humana ainda tão presentes, infelizmente, em várias partes do mundo. Quem se apresenta como um zeloso adorador de Jesus Eucarístico e não dá valor ao seu irmão, que é templo do Espírito Santo, necessita com muita urgência reavaliar sua caminhada de fé na busca de autêntica espiritualidade centrada no Cristo Vivo e Verdadeiro entre nós, na Eucaristia.

   

Que Jesus Eucarístico nos fortaleça, a cada comunhão, em nossos propósitos de vida, testemunhada no compromisso com o Reino de Deus.


Luiz Henrique da Silva Brito

Bispo Diocesano