BEM-AVENTURADOS OS MISERICORDIOSOS

Ensina-nos o grande doutor da Igreja, São Tomás de Aquino, que o evangelista associa a misericórdia à justiça “porque a justiça sem a misericórdia é cruel, ao passo que a misericórdia sem a justiça é a mãe da dissolução moral”. Cita também o Salmo 84, que fala: “a misericórdia e verdade se encontrarão, justiça e paz se abraçarão”.

  Assim, caros leitores, podemos perceber que a misericórdia está intimamente ligada à verdade e à justiça, sem a qual se torna conivência e falta de compromisso de amor ao irmão, pois permite que o mesmo se deixe cada vez mais enveredar pelo sufocante caminho da autodestruição, por causa do pecado e de suas seduções.

 Falar de misericórdia é fundamental, porém não permitamos cair no risco de banalizá-la. É uma experiência forte de perdão, em que as feridas profundas do pecado são saradas. Não se pode menosprezar este momento de encontro profundo e transformador com o Senhor e, por conseguinte, com os irmãos de fé.

  A misericórdia gera, justamente, um sentimento de piedade autêntico suscitado diante da miséria do outro. Não é uma superioridade daquele que tributa misericórdia, mas de corações que se unem pela solidariedade e pelo respeito mútuos.

 Evidentemente, não se podem confundir misericórdia e mera sensibilidade, sentimentalismo estéril que nada faz para que as situações anti-humanas sejam superadas. Tenhamos como exemplo o bom samaritano que, sem sentimentalismo ou dubiedade, fez algo de concreto pelo irmão.

  Temos muitas oportunidades de exercitar a misericórdia na cotidianidade dos nossos afazeres já que nossa propensão em julgar e condenar as pessoas precisa sempre ser domada. Nossas impressões são limitadas e parciais, portanto, não podem ser absolutizadas. Basta um desapontamento, uma palavra, um gesto para que iniciemos este mecanismo de julgamento e condenação.

 A Bem-Aventurança dos misericordiosos se deve aplicar todas as vezes no embate interior do capricho pessoal e da objetiva justiça. Essa luta acontece no interior e, precisamos estar atentos para que a verdade, o sentimento de compaixão e a justiça deem a tônica de uma ação verdadeiramente humana e cristã.

 Como Bem-Aventurança é sinônimo de felicidade, podemos reafirmar, sem sombra de dúvidas, que o ser misericordioso nos traz grande paz e realização. Não significa conquistar, possuir, prevalecer-se sobre o outro, mas deixar ser possuído por Deus, submetendo-se à sua generosa justiça, no aprender d’Ele a prática cotidiana da misericórdia. Experimentaremos, deste modo, que existe mais alegria em dar que receber, e a misericórdia nos invadirá com uma alegria interior.

 Façamos esta enriquecedora experiência, inundando a nossa realidade com a misericórdia e a compaixão, sanando feridas provocadas pelas mágoas e oferecendo amor e solidariedade aos que estão caídos e machucados de tantas formas nas estradas da vida. 


+ Luiz Henrique S. Brito