DEUS VEM AO ENCONTRO DO HOMEM: A REVELAÇÃO DE DEUS E A PROFISSÃO DE FÉ
Todos os domingos, dia da ressurreição do Senhor, os cristãos se reúnem para celebrar juntos a fé da Igreja recebida no batismo e confirmada com a unção do Santo Crisma para professar o mesmo creio numa fórmula que faz parte da Tradição da Igreja, quer seja o símbolo dos apóstolos ou niceno-constantinopolitano.
A nossa fé é uma resposta pessoal e comunitária a Deus que teve a iniciativa de se revelar aos homens mediante a eleição do povo de Israel numa história de salvação no decorrer da caminhada do povo eleito e da Igreja que a prolonga, acolhendo em Jesus Cristo o cumprimento das profecias feitas ao povo da primeira Aliança.
Esta autorrevelação de Deus é um processo histórico que vem ao encontro das aspirações mais profundas da humanidade que procura sua origem e o seu destino, a sua razão de existir com um desejo profundo de felicidade. Várias religiões e filosofias expressam esta busca incessante e intrínseca aos homens desde as origens da humanidade, sendo o homem naturalmente religioso e dotado de razão. A filosofia é literalmente a busca do amor da sabedoria pela razão humana, e dentro das muitas filosofias, se destaca a filosofia grega que se revelou como uma preparação providencial para a acolhida da Revelação. São Paulo em Atenas chegou a interpelar os gregos reunidos no Areópago dizendo-lhes: “Atenienses, em tudo eu vejo que sois extremamente religiosos. Com efeito, observando ao passar as vossas imagens sagradas, encontrei até um altar com esta inscrição: ‘A um deus desconhecido’. Pois bem, aquilo que adorais sem conhecer, eu vos anuncio” (At 17,22-23). São Paulo a partir dos anseios religiosos dos gregos começou a anunciar o Deus que se revelou a Israel comentando que Ele fez tudo o que existe e fez o homem para que buscasse a Deus e o encontrasse comunicando que Ele está perto de nós em Jesus Cristo. É verdade que Paulo não foi bem atendido pois necessita de um maior preparo e de condições melhores para esta revelação divina ser aceita pelos homens que caminham no erro após o pecado. No entanto, a filosofia grega, usando da razão reta dada aos homens por Deus, além de preparar o caminho da acolhida da Revelação foi capaz de afirmar a existência de Deus, mas necessitou Deus mesmo se revelar para os homens o conhecer no seu íntimo.
São Clemente de Alexandria no século II, formado a filosofia em Atenas chegou a falar como cristão da filosofia como de “uma instrução propedêutica da fé cristão”. Então, não tem nenhuma oposição entre a filosofia que procura com a razão reta a verdade, e a teologia que é aplicação desta mesma razão a Revelação da verdade que culmina em Jesus Cristo. O exercício da teologia supõe a fé que procura a compreender a Palavra de Deus lida na Tradição viva da Igreja, consciente que a iluminação pela fé ultrapassa a razão, mas não a contradiz, pois a fonte da razão e da fé é o mesmo Deus que nos criou e nos redimiu.
Resumindo, Deus vem ao encontro da busca da humanidade que procura Deus as apalpadelas após o pecado. A razão reta é fragilizada, mas não aniquilada após o pecado e o homem deve usar da sua razão sem deixar de considerar que Deus é mais que ele e pode o iluminar pela fé e o salvar do erro do pecado e da morte eterna. A fé é um dom de Deus feito ao homem e capaz de purificar a sua inteligência bem disposta na procura de Deus com um coração sincero e aberto a iniciativa divina. A fé permanece um dom de Deus ofertado a todos os homens que o procuram lealmente nos seus caminhos.
Pe. Bernard do Foyer