Cátedra e Catedral, casa e lugar onde a Igreja fala a seus filhos

Cátedra e Catedral, casa e lugar onde a Igreja fala a seus filhos

“Vendo as multidões, Jesus subiu à montanha, sentou-se e seus discípulos aproximaram-se d’Ele. Então abriu a boca e lhes ensinava” (Mt 5, 1-2). Com estas palavras, São Mateus introduz os ensinamentos de Jesus Cristo, como Mestre e Senhor, que nos dá a conhecer o amor do Pai e seu intento de salvação para todo aquele que crê no seu Filho. Nos três anos de vida pública, Jesus passava pelas aldeias e cidade ensinando. Quando via as multidões, dizia que eram como ovelhas sem pastor. E logo em seguida, as ensinava com sua autoridade. Para continuar sua obra, deu aos apóstolos o seu poder de ensinar: “Quem vos ouve a mim ouve” (Lc 10,16). Este poder de ensino em seu nome é o grande mandato missionário, antes de sua ascensão ao céu: “Todo o poder me foi dado no céu e na terra. Ide pelo mundo inteiro e pregai o Evangelho a toda a criatura. Batizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,18-20). Pedro e os outros apóstolos se espalharam por toda a parte, ensinando a Boa Nova da salvação, ministrando o batismo e fazendo de todos, discípulos de Jesus, membros de seu Corpo Místico, que é a Igreja.

Esse tríplice poder da Igreja, de ensinar, de governar e de santificar é simbolizado pela Cátedra do Bispo. Esta palavra vem do grego: katá= acima e edra=cadeira. Isto significa que cátedra é a sede que está acima, ou seja, é a sede ou cadeira principal. Em outras palavras, mesmo que em nossas igrejas haja muitas cadeiras presidenciais, todas as homilias devem estar ligadas à cátedra do Bispo, isto é, ao depósito da fé guardado primeiro pelos Apóstolos, que é simbolizado pela cátedra do Bispo, que tem o poder das chaves em sua Diocese.

A cátedra é, portanto, o símbolo do poder de ensino na Igreja, essencial ao mandato de ligar e desligar conferido a Pedro e depois aos Doze Apóstolos. Porém, o poder de ensino do Bispo comporta o empenho a serviço da obediência da fé. O Bispo não é um soberano absoluto da Palavra em sua Diocese em que seu pensamento se torna lei. Pelo contrário, seu ministério episcopal é garantia da obediência a Cristo e a sua Palavra, em comunhão com a Cátedra de Pedro. Em sua Diocese e de sua Cátedra, o Bispo não proclama suas próprias ideias, mas está vinculado ao Magistério perene da Igreja, guiado pelo Espírito Santo. “Assim, afirma o Papa Bento XVI, seu poder não está acima, mas a serviço da Palavra de Deus, e sobre ele pousa a responsabilidade de fazer com que esta Palavra continue a permanecer presente na sua grandeza e a ressoar na sua pureza, para que não ocorra que esteja sujeita às contínuas mudanças da moda” (Homilia na posse como Bispo de Roma, 7/05/2005). A Cátedra episcopal é o sinal da unidade, da Ordem, do poder e do magistério autêntico em união com Pedro.

A igreja catedral tem esse nome, pois nela está de modo visível a cátedra do Bispo. É ela a Igreja do Bispo enquanto pastor da Diocese. São Paulo VI assinala que “a catedral é também um poderoso símbolo da Igreja visível de Cristo, que reza, canta e adora nesta terra; daquele Corpo Místico, no qual os membros se tornam associações de caridade, alimentados pela linfa da graça; e, como lemos na festa da Dedicação no Rito ambrosiano: ‘Esta é a mãe de todos, que se tornou mais sublime pelo número de filhos. A cada dia gera novos filhos para Deus, em virtude do Espírito Santo. O mundo inteiro está cheio de seus ramos. Ele eleva ao reino celeste seus rebentos, sustentados pelo tronco. A catedral é aquela cidade sublime erguida no alto da montanha, visível por todos e luminosa para todos (Missal Ambrosiano, Prefácio da festa da Dedicação da igreja)”. (S. Paulo VI Mirificus eventos, 1965). A catedral é a igreja mais importante da Diocese, é a sua igreja mãe, o centro da sua vida litúrgica e espiritual, o lugar em que “a vida diocesana encontra sua máxima expressão [...] e se realiza o ato mais sublime e sagrado do múnus de santificar do Bispo” (Apostolorum sucessores, n.155). Por isso, na catedral, a liturgia deve ser celebrada com solenidade exemplar e decoro, com a devida devoção e respeito às rubricas litúrgicas (Ibidem). Além disso, a catedral, na majestade das suas estruturas arquitetônicas, representa o templo espiritual que se edifica interiormente em cada alma, no esplendor da graça, segundo a expressão do Apóstolo: “na verdade sois o templo do Deus vivo (2 Cor 6,16). A catedral é, portanto, além do Edifício principal da Diocese, representação do templo espiritual construído nos corações dos fiéis, no esplendor da graça de Deus, símbolo da Igreja visível de Cristo na terra, que é o seu Corpo Místico.

A porta da catedral representa Cristo, que deu sua vida por nós e se dá a nós em alimento na sua Palavra, mas sobretudo na Eucaristia. Assim a porta de entrada da catedral é a porta da Caridade. Todos nós que entramos por esta porta devemos estar abertos ao amor de Cristo, prontos a servirmos uns aos outros e darmos as nossas vidas pelos nossos irmãos.

Para nós, é uma grande graça podermos entrar pela porta da Caridade em nossa catedral. E hoje, de modo especial, participar da instalação de nossa nova Co-catedral dedicada à Nossa Senhora da Conceição, onde vemos na Cátedra do Bispo, a Mãe-Igreja que nos acolhe. Nela podemos contemplar a Mãe de Deus Imaculada, que guardava as palavras de seu Filho no coração. Ela está pronta para nos acolher e nos formar como filhos fieis da Santa Igreja.