PACTO EDUCATIVO GLOBAL

 O Papa Francisco lançou para o mundo, em setembro de 2019, um especial convite, no sentido de envolver todas as energias disponíveis para que se concretizasse um amplo e inclusivo compromisso com a educação.

A Igreja no Brasil, através da Campanha da Fraternidade deste ano, se une ao Santo Padre nesta importante reflexão, justamente porque o alerta do Papa é de grande relevância. Ele entende que a educação não está sendo levada a sério.

 Em seu pontificado, Francisco tem se esmerado neste caminho educativo, que deve nos impulsionar a compromissos concretos com a fraternidade universal. Esta foi a tônica do encontro realizado em Abu Dhabi, ou seja, o desejo de reafirmar a importância do diálogo com o mundo islâmico, já que educação significa construir fraternidade.

 Desta forma, teremos condições de trilhar caminhos mais adequados para que possamos enfrentar os desafios da modernidade: combate ao individualismo, uso racional dos recursos do planeta e, ao mesmo tempo, reafirmar a importância de respeitar o ser humano desde o ventre materno. O Papa nos alerta ao dizer que “não transformaremos o mundo, se não mudarmos a educação” (Discurso por ocasião do IV Congresso Mundial de Scholas Occurrentes, 05 de fevereiro de 2015).

Francisco, na Laudato Si, reforça esta reflexão ao dizer que “a educação será ineficaz e o seus esforços estéreis, se não se preocupar também por difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza” (LS, 215).

Nos unimos a esse esforço do Papa com a Campanha da Fraternidade 2022, cujo tema é: “Fraternidade e educação” e o lema: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26), a demonstrar que a educação não pode ser algo meramente técnico, mas um conteúdo que toque a essência da pessoa.

Precisamos entender a educação não somente como uma responsabilidade escolar, mas que envolva todas as dimensões da vida e da sociedade. Uma educação compreendida como elemento importante para toda existência humana, a perpassar o âmbito familiar, a escola formal, o contexto eclesial, o mundo da cultura e da comunicação. Todos esses espaços devem ser compreendidos como momentos educativos.

Neste sentido, a CF 2022 quer lançar uma reflexão necessária sobre o contexto da educação na cultura atual, com seus desafios potencializados pela pandemia; identificar valores e referências da Palavra de Deus e da Tradição cristã para que se construa uma educação humanizadora, na perspectiva do Reino de Deus; a importância da família no processo educativo, como também da comunidade de fé; incentivar as propostas educativas, para que se promova a dignidade humana, experiência do transcendente, a cultura do encontro e cuidado com a casa comum.

Torna-se fundamental também ter um olhar atento às nossas próprias instituições de ensino, que, sem deixar de discernir, escutar e dialogar com a sociedade, devem ser espaços que reflitam e contribuam com os valores da fé, já que devem ter uma identidade católica muito clara, sem temer as pressões da mundanidade, que insiste em diluir nossos compromissos religiosos e de fé.

Esta Campanha da Fraternidade é de uma pertinência ímpar e, portanto, desejamos que todas as nossas comunidades possam motivar reflexões, momentos de abastecimento espiritual e ações concretas, para que se possa avançar nesse pedido do Papa em relação ao Pacto Educativo Global. Como bem diz o Papa, “o educador [...], rico de humanidade, é capaz de permanecer no meio dos jovens com um estilo pedagógico, para prover seu crescimento humano e espiritual” (Discurso aos participantes da plenária da Congregação para a Educação Católica, 13 de fevereiro de 2014).

Reforço também que o verdadeiro educador, maduro e plenamente consciente de sua missão valiosíssima, não se deixará envolver por mentalidades ideologicamente radicalizadas e político- partidárias, mas se tornará uma voz abalizada, equilibrada e de grande importância nestes tempos tão complexos em que as vozes da violência, agressividade e fanatismos de toda ordem parecem prevalecer.

O compromisso da Igreja não é com partidos, regimes sectários ou totalitários, mas com o Evangelho. Portanto, nosso lugar de fala será sempre a Palavra de Deus e a Doutrina Social da Igreja, onde os pastores legítimos, isto é, os bispos em comunhão com o Papa, certamente, nos ajudam na reflexão sobre o valor de uma educação de qualidade.

† Luiz Henrique da Silva Brito

Bispo de Barra do Piraí-Volta Redonda