Fraternidade e Amizade Social

Caros Diocesanos,

A Campanha da Fraternidade deste ano se inspira na Encíclica do Papa Francisco Fratelli Tutti e traz como tema “Fraternidade e Amizade Social” e o lema “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8). Em nossa Diocese, temos o costume de realizar um dia especial de sensibilização, para que nossas lideranças leigas, juntamente com os clérigos, possam motivar o estudo e o aprofundamento do tema, no intuito de vivenciar intensamente o período privilegiado de conversão que é a Quaresma.

É importante sempre ressaltar que a Campanha da Fraternidade não tem o objetivo de sobrepor aquilo que a Tradição da Igreja sempre valorizou, ou seja, os atos de fé e piedade, como também as obras de misericórdia, próprios do período quaresmal.

A Igreja no Brasil, preocupada com a onda de polarizações ideológicas político-partidárias e as agressividades verbais e, infelizmente, atentados contra a vida do ser humano, por conta de pensamentos divergentes, a causar tantos dissabores nas relações familiares e até eclesiais, oferece essa oportuna reflexão pautada na Palavra de Deus, a nos recordar que somos irmãos e irmãs.

É natural termos posições político-partidárias distintas, até mesmo visões eclesiais diversas, mas isso não quer dizer que seja impossível uma madura e saudável convivência, respeitando os estilos, expressões e visões distintas de cada um. Podemos ser adversários no pensamento e mentalidades, mas inimigos jamais, já que a inimizade tende a querer eliminar aquele(a) que se opõe ao nosso modo de pensar.

Hoje verificamos grandes “bolhas” de pensamento, com graves consequências para convivência humana. Cada grupo se retroalimenta com seus pensamentos e ideias, inclusive sem nenhuma preocupação no disseminar as chamadas fake news e, mais grave ainda, as “meias- -verdades”, piores do que uma mentira, já que a “meia- -verdade” confunde e lança muitas desconfianças.

Já se disse que o primeiro fake news da história aconteceu no relato da desobediência, no livro dos Gênesis, quando a serpente maligna lançou suspeitas e desconfianças no coração do primeiro casal humano, Adão e Eva. Como discípulos e discípulas de Cristo, vacinemo-nos desta forma de enxergar o mundo com medo, suspeitas, desconfianças e desobediências, agindo como nosso Mestre e Senhor, que veio para fazer a vontade do Pai.

Exorta-nos Papa Francisco, na Fratelli Tutti: “sonhemos como uma única humanidade, como caminhantes da mesma carne humana, como filhos desta mesma terra que nos alberga a todos, cada qual com a riqueza de sua fé ou das suas convicções, ada qual com a própria voz, mas todos os irmãos”. Que todos nós, conforme pede o Papa, abracemos a causa da fraternidade e superemos conflitos que nos impedem de nos enxergar como irmãos e irmãs.

Obviamente temos nossas convicções. Não se trata de aboli-las ou relegá-las ao segundo plano, mas agir com coerência e fraternidade em nossas relações e decisões. Que possamos construir uma cultura do encontro e da solidariedade. O conflito e a violência nada trazem de bom, sabemos muito bem pela escola da história humana. Pena que não aprendemos ainda em pleno século XXI, os esquemas antigos de solução, pautados na guerra, nas ditaduras e na violência de toda ordem persistem, demonstrando o quanto ainda nossa sociedade está enferma e necessitada de conversão. Neste aspecto, o Papa nos recorda a importância da “boa política”, que, conforme a Doutrina Social da Igreja, constrói comunhão e contribui para projetos comuns, ao contrário da “má política”, que acirra as polarizações, alimentando-as para conquistar escusos projetos de poder.

Este tema da importância política não é de agora. A Igreja sempre valorizou a boa política em seu mais justo e adequado sentido, ou seja, bem dos que habitam nas cidades. Inclusive, é oportuno recordar a reflexão do Papa Pio XII, ao dizer que “a política é a forma mais perfeita da caridade”. Frase lapidar, que nos ensina o quanto é importante preocuparmo-nos com a condução do país por aqueles que elegemos no legislativo e executivo, como também refletir e procurar discernir bem em quem votamos. Não podemos reduzir o cuidado com os necessitados e colocados à margem da sociedade ao mero assistencialismo. Precisamos combater todas as formas de injustiça e opressão existentes na sociedade.

Que a Campanha da Fraternidade deste ano nos ajude a ter um olhar de fraternidade e cuidado para com todos, mesmo os que não pensam como nós, pois “somos todos irmãos e irmãs”, filhos, pela graça, do mesmo Pai que está nos céus.

O Senhor é nossa Força!