COERÊNCIA EUCARÍSTICA

Prezados Diocesanos,

Neste especial mês de junho, em pleno ano jubilar, com grande alegria participaremos do III Congresso Eucarístico Diocesano. Será, certamente, uma semana que ficará marcada em nossos corações.

O tema proposto para o próprio Centenário, “Memória, Gratidão e Missão”, se aplica perfeitamente a uma autêntica experiência eucarística. O lema bíblico nos inspira nesse caminho de proximidade com o Senhor, que nos fala através da vida sacramental e bíblica: “Fica conosco, Senhor!”. Súplica esta de discípulos que entendem muito bem que sem Ele nada podemos fazer.

Motivado por este acontecimento, gostaria de chamar a atenção sobre a COERÊNCIA EUCARÍSTICA. Não teria nenhum sentido celebrar publicamente a presença real de Jesus na Eucaristia, realizar momentos de catequese, formação, atividades socioambientais, como está previsto na programação do Congresso Eucarístico, se não nos empenharmos em aderir de forma inequívoca e firme a uma vida eucarística, comprometida com a lógica do Evangelho.

A coerência eucarística, enquanto expressão de grande impacto na vida social e religiosa dos católicos, está expressa no documento final da V Conferência Geral dos Bispos da América Latina e do Caribe, realizada em Aparecida no ano de 2007. Neste aspecto, recordo o quanto nosso Papa Francisco – relator principal desta conferência quando ainda era cardeal – realça a importância de retomar Aparecida que, nas palavras do Papa Emérito Bento XVI, deve ser acolhida “pelas numerosas e oportunas recomendações pastorais motivadas por ricas reflexões à luz da fé e do contexto social atual”.  O parágrafo completo é de rica reflexão, ao dizer: “esperamos que os legisladores, governantes e profissionais da saúde, conscientes da dignidade da vida humana e do fundamento da família em nossos povos, defendam-na e protejam-na dos crimes abomináveis do aborto e da eutanásia; esta é sua responsabilidade. Por isso, diante de leis e disposições governamentais que são injustas à luz da fé e da razão, deve-se favorecer a objeção de consciência. Devemos nos ater à ‘coerência eucarística’, isto é, ser conscientes de que não se pode receber a Sagrada Comunhão e, ao mesmo tempo, agir com atos ou palavras contra os mandamentos, em particular quando se promove o aborto, a eutanásia e outros graves delitos contra a vida e a família. Esta responsabilidade pesa de maneira particular sobre os legisladores, governantes e os profissionais da saúde”. (DA, 436)

A coerência eucarística é uma chamada de atenção por parte da Igreja para que todos nós, ao receber Jesus Eucarístico, nos empenhemos em um caminho coerente com a fé que professamos. Na Sacramentum Caritatis, Bento XVI insere a expressão “coerência eucarística” para falar da “conexão objetiva” entre Eucaristia e valores fundamentais que o católico deve primar na sua existência, inserido no mundo, sem se deixar contaminar por ele. Cito o texto: “o respeito e defesa da vida humana desde a concepção até à morte natural, a família fundada sobre o matrimônio entre um homem e uma mulher, a liberdade de educação dos filhos e a promoção do bem comum em todas as suas formas” (Sacramentum Caritatis, n. 83).

Quais as consequências práticas para se viver intensamente essa coerência eucarística? Esta pergunta basilar precisa ser respondida através de atos concretos, ou seja, um deixar-se questionar continuamente: Vivo em comunhão plena com a Igreja Católica? Sou culpado de algum pecado grave? Vivo minha fé no cotidiano, ou só expresso minha religiosidade formalista em celebrações cultuais?

O assunto ora abordado tem desdobramentos fundamentais, difíceis de serem aglutinados em um texto resumido. Contudo, como pastor próprio, guardião da fé e da liturgia nesta amada Igreja Particular de Barra do Piraí-Volta Redonda, é meu dever zelar para que orientações seguras em matéria de fé e doutrina, como também litúrgica, sejam oferecidas com suficiente clareza. Assim nos recorda a Exortação Apostólica Christifideles Laici, ao afirmar que o bispo é “princípio visível e fundamento da unidade” da Igreja Particular.

Abusos litúrgicos, reflexões de cunho eclesial ou teológico, até mesmo bem elaboradas por aqueles(as) que possuem uma certa capacidade retórica, mas que não condizem com a fé que professamos, não devem ser chancelados, pois causam confusão e escândalo aos fiéis mais simples, muitas vezes perplexos diante de certas posturas daqueles que deveriam promover uma clara e adequada catequese e boa formação. 

Os colaboradores do bispo, neste aspecto, têm um papel essencial ao favorecer momentos celebrativos que inspirem comunhão, proximidade e unção, evitando toda forma de divisões, com arroubos ideológicos. Devem ainda muito menos trabalhar deliberadamente, de forma velada ou direta, contra as disposições episcopais e a diocese. Cabe lembrar: a Igreja que nos abriga e nos sustenta é apostólica e, como tal, episcopal. Não existe Igreja Católica presbiteral ou laical. A Igreja de Cristo, em sua constituição basilar, surge pela vontade de Cristo, a partir dos Apóstolos e seus sucessores.

Como legado deste Congresso Eucarístico, está em “pleno vapor” a criação de nosso Santuário Eucarístico Diocesano, no distrito de Floriano (BM). Agradeço todos os envolvidos neste projeto, a começar pela Paróquia Nossa Senhora das Dores, em Porto Real, onde se encontra a Comunidade Sagrado Coração de Jesus-Floriano, e que abraçou este “sonho” com muito amor e dedicação. Evidentemente, desejo que toda Diocese se envolva neste abençoado projeto: paróquias, pastorais, movimentos, comunidades de vida, enfim. Que todos possamos oferecer a Cristo este gesto de amor e devoção, com a criação do Santuário de Adoração Coração Eucarístico de Jesus.

Que Jesus Eucarístico, neste ano tão significativo para a Diocese, suscite no coração de todos um profundo zelo pela evangelização, partilha, comunhão e solidariedade, pois a “Eucaristia é a fonte e ponto culminante de toda a vida cristã” (Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, Relatio Finalis, 7.12.1985).

+ Luiz Henrique da Silva Brito

Bispo de Barra do Piraí-Volta Redonda